O esporte como utilidade pública: engajamento social e a campanha do balde de gelo

28 08 2014

Atletas das mais diversas modalidades costumam receber status de celebridades graças às suas conquistas esportivas, ao marketing e à exposição pela mídia. Aproveitando o conhecimento e a admiração que despertam, muitos deles elegem-se para cargos políticos, tornam-se garotos-propaganda ou empresários, entre outras ocupações de destaque midiático.

 Porém é igualmente comum observarmos o emprego da imagem de atletas em campanhas de sensibilização social, obras filantrópicas e alertas de utilidade pública. Por serem pessoas bem quistas de maneira geral pela sociedade, suas vozes se tornam fortes instrumentos a fim de transmitir e fazer compreender a mensagem em questão.

 Apelos pela paz nos estádios ganham mais credibilidade quando mostram rivais em campo se abraçando na TV. Um campeão olímpico fotografado doando sangue incentiva a população a fazer o mesmo. O governo federal alcança mais lares associando a divulgação de uma reforma previdenciária, por exemplo, a um esportista com boa aceitação no país.

 Algumas vezes o próprio atleta inicia a campanha, seja por aproximação à causa, seja por vivê-la na própria pele. É o caso da recente viralização massiva do “desafio do balde de gelo”.

 O ex-jogador norte-americano de baseball universitário Pete Frates foi diagnosticado, em março de 2012, com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa ainda sem cura. A ELA causa a paralisia motora irrecuperável e que nos EUA também é conhecida como doença de Lou Gehrig, ex-atleta que morreu por consequências da ELA em 1941, tendo atuado por 17 anos com a camisa do New York Yankees e MVP da Major League Baseball em duas oportunidades.

 Frates ainda não sabia, mas estava prestes a, ao menos por ora, sensibilizar parte da população sobre a ELA, auxiliar institutos de pesquisa que buscam sua cura e criar mais um fato viral na internet. Frates não foi o inventor do “desafio do balde de gelo”, mas quem popularizou.

 O precursor foi um jogador de golfe em uma brincadeira com a prima, cujo marido também tinha ELA. A moça deveria tomar um banho de gelo em troca de uma doação para pesquisas relativas à doença. Pronto. Era a receita para a massificação. A brincadeira chegou em Frates e, de atleta em atleta, foi atingindo Neymar, Cristiano Ronaldo, LeBron James, Usain Bolt e outras personalidades fora do esporte, como Gisele Bündchen e Bill Gates.

 Como toda campanha de mídias sociais que se torna viral e ganha a adesão de celebridades, o “desafio do balde de gelo” foi apropriado pelo marketing pessoal e pela publicidade a fim de promover a imagem e a reputação destas pessoas notáveis. Grandes produções foram montadas para o simples gesto de virar um balde de gelo sobre a própria cabeça.

 Muitas marcas apareceram e vários times de diversas modalidades aderiram à causa. Coincidência? Filantropia interesseira? Marketing de oportunidade? Talvez tudo disso um pouco, ou nada se sabe. O importante é que as doações já passam dos US$ 22 milhões e a ELA dá um importante passo para conhecer sua cura.

 Hoje Pete Frates convive com a doença, se casou e ocupa o cargo simbólico de diretor de operações de baseball do Boston College.

 

Pedro Corat

 Vídeo: compilação com alguns jogadores de futebol fazendo o “desafio do balde de gelo” (tem o CR7 de sunguinha, pra deleite feminino)

Para saber mais sobre a ELA e fazer doações, visite o site do Instituto Paulo Gontijo





Paixão, Competição, Música e o Jogo. Então, isto é football?

16 10 2011

Receiver, Quarter Back, Linebacker, Snap, Scramble, Huddle. Se não fosse pelo Quarter Back, creio que poucos teriam alguma ideia sobre o assunto deste novo post. Pois bem, para conhecidos e outros nem tão familiarizados assim, falaremos sobre o esporte da bola oval: Futebol Americano.

É interessante pensar que o surgimento deste esporte tem a mesma origem do nosso conhecido futebol, ou seja, a Inglaterra. A princípio, os americanos que foram estudar na terra da Rainha lá pelo século 19, acabaram tendo contato com o esporte de Charles Miller, assim como com o rugby. Voltando para a terra do Tio Sam, os ianques fizeram as adaptações necessárias ao rugby e criaram um “esporte genuinamente americano”, as they like to say!

Um fato curioso é saber que o esporte chegou quase a ser proibido pelo ex-presidente norte americano Theodore Roosevelt, devido ao excesso de violência que existia, no início do século 20. A razão? 18 jogadores universitários já haviam morrido em campo, devido à catastrófica prática do jogo. A partir daí, o esporte passa a se remodelar com regras e muito mais pensamento tático, mais movimentação, avanços rápidos, escapadas, passes e dribles.

Quem se maravilha com os elevados índices financeiros que envolvem a NFL de hoje, não imagina que a liga teve muita dificuldade antes de todo este tempo glorioso. Confusões quanto às regras e até mesmo uma final de campeonato disputada em uma arena de circo, em 1933, entre o Chicago Cardinals e o atual Detroit Lions (na época, Porstmouth Spartans). Sem dizer que a Segunda Guerra Mundial destruiu alguns grandiosos times que existiam naquela época.

Mas, para falar sobre os spotlights da bola oval, muito disto ocorre devido aos incentivos em transmissão de TV, principalmente no que envolve a decisão do campeonato, o famoso SuperBowl. Para se ter ideia, o chamado “maior jogo de todos os tempos” de uma final de Futebol Americano, em 1958, entre Baltimore Colts e New York Giants, anotou uma audiência televisiva de 45 milhões de telespectadores, o que começou a demonstrar o avanço do esporte como negócio, ao menos com um belo potencial.

Hoje, aliás, desde 1993, o SuperBowl não é apenas uma final de jogo, é um verdadeiro show, com apresentação dos mais famosos artistas e intérpretes da música. Por que 1993? Ninguém nada menos que Michael Jackson foi a sensação do intervalo da finalíssima. Na final de 2011, que ocorreu em fevereiro, Christina Aguilera abriu o jogo ao cantar o Hino Nacional Americano e, no halftime, The Black Eyed Peas, Usher e Slash demonstraram o potencial que o esporte ianque apresenta.

Quer mais? O evento é um celeiro de oportunidades para exposição e ativação de marcas. Estima-se que esta última edição gerou pouco mais de R$ 670 milhões para a região de Miami e um consumo de aproximadamente R$ 16,8 bilhões por parte dos norte-americanos durante a partida. A Pizza Hut, por exemplo, atendeu mais de um milhão de pedidos em todo o território nacional, muito devido ao anúncio de 30 segundos no intervalo da partida, a inserção comercial conhecida como a mais cara do mundo. Um investimento de quase R$ 50 milhões, para um total de 106,5 milhões de telespectadores. Enfim, é espetáculo para americano nenhum, melhor, para ninguém no mundo botar defeito.

Os números são não somente expressivos, como expansivos e, por aqui, o esporte começa a ter um crescimento tímido, mas interessante, a partir de algumas competições nacionais que despontam com destaque, como é o caso do Torneio Touchdown, a Liga Brasileira de Futebol Americano (LBFA) e a Liga Nordeste (LINEFA).

Mesmo que um pouco “escondido”, o Brasil já possui mais de 35 equipes amadoras de Futebol Americano, que disputam o esporte com equipamentos completos, seguindo as mesmas regras da NFL. E a tarefa de padronizar todas estas competições, bem como dar força para as equipes é da Associação de Futebol Americano do Brasil (AFAB).

A AFAB está à frente da Seleção Brasileira de Futebol Americano, buscando fortalecer a presença do esporte no país, principalmente a partir dos estímulos com a Seleção Sub-19, que objetiva desenvolver as categorias de base do esporte no Brasil. Inclusive, a entidade já anunciou o 1º Torneio de Seleções Estaduais Sub-19, que acontecerá nos dias 11 e 12 de fevereiro de 2012. O torneiro deverá evidenciar os melhores jogadores da categoria, para formar a Seleção Brasileira Masculina Sub-19, que disputará amistosos antes da Copa do Mundo Sub-19 da International American Football (IFAF) em 2014.

Claro, não estamos nos níveis estratosféricos da NFL, mas percebemos que o esporte ianque tem muitos adeptos e potencial para ser desenvolvido no país. É preciso vencer a mítica do esporte único, mas, se depender apenas do nome, este football com as mãos deve ter muito sucesso por aqui.

Carlos Affonso





UFC – O esporte de luta do momento

20 09 2011

Já sei! Que tal se a gente criar um torneio para descobrir quem é o lutador mais forte do mundo? Independente do estilo de luta que ele utilizar?

Claro que não foi exatamente assim que as lutas MMA (Mixed Martial Arts) começaram, mas, grosso modo, essa era a intenção, lá em 1993, quando o torneio que veio a se tornar o Ultimate Fighting Championship (UFC) iniciou suas raízes.

Esporte que tem crescido e ganhado adeptos em quantidade cada vez maiores, a realização do torneio no Rio de Janeiro, demonstrou o forte potencial que a modalidade apresenta, tanto como esporte, como para os negócios. Cabe fazer uma análise a partir de um retrospecto.

O torneio, que começou como Vale Tudo, logo nos segundos iniciais do primeiro round ganhou a atenção de telespectadores de canais pay-per-view. Contudo, o contexto de luta quase sem regras (existiam apenas quatro) não agradava a muitos, o que fez o evento ser proibido em alguns estados da terra do Tio Sam. O próprio John McCain, em sua época de Senador, cravou as lutas como “Briga de Galo Humana”, além dos principais canais de PPV também rejeitarem as lutas.

Existe muita história nisto tudo (inclusive dizer que a família Gracie foi a maior idealizadora e vencedora dos torneios iniciais), mas a reformulação do produto UFC como esporte, inicia aí, com um reposicionamento do torneio, a partir da criação de regras que pregassem a bandeira de MMA, buscando ampliar sua aceitação de público e de canais de transmissão. Entre idas e vindas, surge a figura de Dana White, então promotor de boxe, com o interesse pelas lutas do novo esporte.

Informações da web creditam que Dana White, junto com outros dois sócios (irmãos Frank e Lorenzo Fertitta) tenham comprado o UFC da antiga proprietária (SEG – Grupo Semaphore) pela quantia de US$ 2 milhões de dólares, investimento feito em 2001, que deve valer e fazer rir de cada centavo, pela proporção verificada hoje.

A estratégia dos novos articuladores do UFC começa a ser realizada: aproximar-se de comissões reguladoras de esportes de luta, o que facilitou a retomada da transmissão das lutas pelos canais da TV à cabo americana, principalmente pela criação de regras que ajudavam a transformar a “rinha humana” em esporte. Além disso, as lutas passaram a ser realizadas em lugares de destaque e glamour, como cassinos e grandes casas de shows norte americanas, por exemplo, o que elevava a visibilidade e o status do esporte.

Os números do UFC começam a ficar interessantes no UFC 40, quando a luta entre Tito Ortiz e Ken Shamrock gerou uma venda de US$ 978.150,00 em PPV. Mas, mesmo com essa nova popularidade, o UFC ainda gerava dívidas aos novos proprietários, fazendo surgir uma nova proposta para alavancar o produto: o reality show The Ultimate Fighter, no qual o vencedor do programa teria o direito de lutar no UFC.

Em se tratando de um formato de programa que sempre demonstra grande atração da população, a estratégia seria de fácil venda, caso não esbarrasse no receio de muitas emissoras em comprar os direitos para exibição do programa. Com sorte, um único canal apostou na ideia de Dana White e, em 2005, o reality demonstra seu potencial sucesso. Após as exibições do programa, as vendas do UFC em PPV emplacaram, chegando a uma média que superou o boxe em 2006: 1 milhão de vendas em pay-per-view.

Claro, esse é um flash back que dura menos que os cinco minutos de cada um dos três rounds permitidos dentro do octógono, contudo, isso é apenas para demonstrar que os atuais números e potencial desenvolvimento que o UFC representa, não nasceram de pura e simples sorte, mas de um trabalho fortemente estruturado em estratégias que possuem muito, ou quase tudo, de comunicação.

Atualmente, o UFC é o maior campeonato de artes marciais mistas do mundo, carregando sua marca junto a excelência de vários esportistas que competem pelo torneio, além de existirem centenas de artigos esportivos vinculados à sua marca.

As lutas geram todas as formas de divulgação, seja ela virtual, buzz ou boca a boca. Um fácil comparativo que se faz, é o fato da luta entre os brasileiros Anderson Silva e Vitor Belfort ter ficado dez dias no Trending Topics do Twitter, à frente de acontecimentos como o próprio Super Bowl, febre do Futebol Americano.

Outros dados de 2010 demonstram, também, que o UFC obteve:

  • Faturamento de US$ 400 mi, sendo 80% em pay-per-view;
  • 8 milhões de pacotes PPV vendidos;
  • Crescimento médio de 10% ao ano;
  • Alcance de 500 milhões de lares, nas transmissões das lutas de 2010.

Talvez, o maior desafio para o esporte, seja sua busca pelos números da antiga paixão de lutas do ser humano, o boxe. Estima-se que a Luta do Século, entre Anderson Silva e Vitor Belfort tenha gerado uma renda média de US$ 3,6 milhões em ingressos. O maior montante observado até hoje, em uma luta de boxe, foi de US$ 18 milhões em ingressos, no combate entre Evander Holyfield e Mike Tyson.

Isto só vem demonstrar que o UFC tem um enorme potencial a ser desenvolvido, podendo alcançar números estratosféricos, que possivelmente superarão os tempos áureos do pugilismo. Os apaixonados por este dirão que não, mas, não se pode negar que o Ultimate Fighting Championship é o esporte de luta mais desejado do momento.

Carlos Affonso

Para saber mais:

Site Oficial UFC

Bastidores do UFC 135 | Brasil – Rio de Janeiro